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13/09/2018



Há um caminho para a paz, mas ele passa pelo buraco da agulha.

Não é fácil o caminho da paz, porque não é um caminho externo, não é uma montanha a ser escalada, nem mesmo um rio profundo a ser atravessado. É um caminho onde todas as bifurcações levam para o coração. Não é um caminho de razões, mas de desapego delas. Também não é um caminho de etiquetas. É um caminho de profundo sentir, onde um enorme espelho nos acompanha pelos corredores do labirinto chamado vida, onde as mentiras que contamos para nós mesmos são escritas em tecido de linho puro com nossas lágrimas e balançam ao vento da nossa hipocrisia, que precisa ser escancarada para que possamos deixar de negá-la.

Há um caminho para a paz, mas ele passa pela rendição. Por parar de ter uma fé morna, rasa, medíocre.

Há um caminho para a paz, mas ele passa por dentro de tudo o que sentimos e desejamos e, se não estamos realmente atentos ao que sentimos e desejamos, não teremos paz.

Não adianta rezarmos desejando paz, se sentimos medo.

Não adianta rezarmos desejando que furacões diminuam sua intensidade, se sentimos medo.

Não adianta rezarmos contra o fascismo, se sentimos medo.

Não adianta rezarmos pedindo justiça, se acreditamos em pena de morte.

Não adianta rezarmos por leis, se a maior delas, e a que acabaria com toda miséria do mundo não é cumprida: “Amai ao próximo como a ti mesmo”!

Não adianta falar em paz, se estamos com espada nas mãos, quem caminha no amor não se arma para ferir ninguém.

Não adianta nos ajoelharmos em prece se continuamos a seguir cegos e loucos e não conseguimos caminhar com as palavras que pregamos.

Caminhamos rumos à barbárie. Caminhamos de volta aos tempos onde uma arma de fogo na cintura ditava as regras, na hora e lugar que fossem convenientes. Caminhamos de volta aos tempos onde a igreja matava em nome de Deus e abençoava em nome do dinheiro.

Caminhamos na mentira, espalhamos mentira apenas para ter nossas opiniões mantidas em suas zonas de conforto, onde temos tronos de ouro e valor de merda.

Caminhamos atirando pedras a cada erro dos irmãos, mas vamos aos domingos na igreja cultuar Aquele que disse: “Atire a primeira pedra quem nunca errou”!

Vamos às cerimônias de medicina, mas ainda temos o fel venenoso da fofoca escorrendo entre os lábios. Sentamos em círculos, mas, ainda nos sentimos maiores e melhores uns que outros.

Seguimos mestres e gurus e entregamos nossa dignidade a eles, esquecendo quem somos de verdade.

Matamos por causa de um carro, mas não socorremos quem grita por socorro.

Repetimos a frase: por todas nossas relações, mas negamos um copo com água para um irmão em situação de rua.

Falamos sem parar coisas sem sentido e não temos tempo para ouvir a dor dos que compartilham deste tempo/espaço.

Estamos vazios.

Estamos cegos.

Estamos surdos.

Apenas estamos, sem sermos.

Esquecemos que o caminho da paz começa em nós e ele passa pelo buraco da agulha.

Esquecemos que atraímos do Universo tudo o que sentimos e vibramos. O que falamos são como penas ao vento...



Rose Kareemi Ponce

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