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13/08/2014






Uma borboleta monarca voando pelo jardim florido, em busca de seu néctar, ouve um choro fraquinho vindo lá de baixo, de uma folha verdinha, verdinha!

Resolveu dar uma olhada e descobrir o dono do lamento e voando até a parte baixa do que chorava baixinho, enquanto se alimentava sem parar da folha que também servia como hospedeira desse pequenino ser.

Perguntou então curiosa:

- O que acontece criança? Porque esse choro?

A lagarta então, quase em sussurro diz: - Acabo de me dar conta, que minha vida se resume a isso, comer, comer, comer. Não consigo sair daqui, não sei o que há além desse arbusto, não vejo nada além do que tenho na frente. Não sou nada. Surgi de um ovo e virei esse ser que apenas rasteja e come, come e rasteja, não tenho ninguém com quem conversar!

A borboleta rindo-se da pequena lagarta muito calmamente disse: - Ora pequenina, não se lamente tanto! Na vida tudo tem seu próprio tempo, há o tempo de nascer, de crescer e de morrer e, mesmo após morrermos várias vezes, sempre sentiremos que existe algo para aprender e sempre por estarmos em evolução, trocaremos de roupa, de lugar, compreenderemos o sentido da vida mas mesmo ele, mudará com o tempo! Você mesmo que sofre tanto hoje, breve estará trocando de roupa, mudando de aparência e breve morrendo para essa vida que te traz tanto sofrimento. Seu alimento hoje, que pensa ser em demasia, é necessidade do seu corpo em transformar-se rápido, é como ele se nutre para alçar o grande vôo!

- E como você sabe disso? Eu não quero morrer, prefiro não crescer se for para morrer! Disse a lagarta que sem perceber, estava deixando para trás enquanto rastejava, sua primeira troca de pele. As lagartas trocam até cinco vezes enquanto estão nessa forma, afinal crescem incessantemente!

- Como eu sei? Vivendo essas fases todas, minha querida e me permitindo passar pelas transformações. O fato de você não querer morrer, não fará a morte ir embora e desistir de você, ao contrário, fará com que as mudanças que vierem apenas sejam doloridas. Veja você, enquanto estamos aqui a conversar, nem se deu conta que sua primeira mudança já aconteceu e, apenas o fato de você ter deixado de reclamar nesse curto período de tempo, já a fez indolor. Não podemos parar o tempo e as mudanças que ele nos traz, podemos evitar a dor de brigar com as mudanças e permitir que elas ocorram pacificamente dentro de nós. A mudança é inexorável, a forma como ela vai acontecer, não! Tudo depende de cada um de nós.

Perceba que mais cedo ou mais tarde, você irá virar uma linda mulher! Tão bela que brilhará ao sol, as flores irão se alegrar apenas por sua chegada e os beija flores, serão seus amigos!

- Ah! Deixa de inventar lorotas linda borboleta! Como poderei eu, um ser que alimenta os pássaros, virar amigo de beija flores!

- Na hora certa, depois de morrer dentro de você mesma e encontrar o vazio absoluto, irá renascer e encontrar sua mais bela forma criança, mas agora apenas nutra-se! As folhas que nutrem seu corpo são verdes, porque trazem com ela a cura das suas dores e a cada fase passada, a cada pele trocada, mais perto de você mesma estará. Você já é o que deve ser, mas precisa arrancar todas as peles que cobrem sua alma, se fechar em você mesma para somente então, renascer em si mesma, tornando-se quem sempre foi!

- Muito difícil tudo isso. Acho que você andou comendo flor venenosa e está tendo uma alucinação. Deixa-me continuar aqui, comendo minhas folhas, que está menos complicado do que essa sua conversa de morte, transformação e sei lá mais o que. Deixa-me aqui com essa minha vidinha sem graça!

E assim a lagarta continuou “caminhando” pelo arbusto, comendo e comendo, reclamando e reclamando, quando mais uma pele saiu, não tão de mansinho quanto a outra, ela ficou grudada, presa. Tinha alguma coisa que não deixava sair e a lagarta ficou chorosa e se lamentando que além de doer, tinha de arrastar essa pele, esse fardo.

E assim, uma após outra as peles foram saindo e, a cada libertação, mais em silêncio a lagarta ficava. Ela ia percebendo uma leveza e “certo sentido” para aquilo tudo começava a despontar dentro dela, a vida começou ter vida! Então se lembrou da borboleta monarca e de toda sua fala. Sentiu um desejo de ficar guardada dentro de si mesma, de ficar protegida no silêncio de sua alma e então, sentiu que saia de seu coração uma luz imensa. Quase que guiada por uma força maior que ela (não que precisasse muito, já que era pequena), escolhe uma flor e tece uma “almofada” e ali se prende permitindo então que sua última pele se solte e forme uma proteção ao seu redor, e então ela percebe que esse era o momento que a monarca tinha falado, ela ia se fechar em si mesma para morrer. Ali estava seu túmulo.

Ela não mais resistiu, permitiu que a morte viesse com toda sua força, impedindo que o ar penetrasse seu corpo e então o nada. O vazio completo se fez. Após longos quinze dias de vida, era assim que tudo terminaria. No vazio.

Mais nada foi sentido ou pensado.

E assim, por mais quinze dias exposta ao sol, com o vento soprando e a chuva caindo a lagarta ali ficou. Em total e completo silencio e escuridão! Em seu fúnebre repouso!

Então, no amanhecer de um lindo dia de sol, o casulo até então fechado, foi aos poucos se rompendo. Permitindo que a luz entrando, fosse despertando a lagarta do seu adormecimento, da sua clausura. Ela vai se espreguiçando, se esticando e saindo pouco a pouco de sua masmorra. Então percebe uma sombra sobre a sombra dele e olha assustada para cima e vê deslumbrada, um lindo par de asas amarelas com listras pretas, como as da monarca que estivera com ela.

Então percebeu o que ela quis dizer quando falou: - Como sei? Vivendo todas as fases!

Assim, ela esticou suas asas ao sol, secou-se e voou, percebendo quão maravilhosa era a vida e sendo grata por todas as fases vividas e por ter tido um mestre que mesmo sem ela querer naquele momento de ego, ensinou o melhor caminho a seguir!

Pousou maravilhada em uma bela flor, cumprimentou um beija-flor que ali estava também se alimentando  e ali sentiu pela primeira vez o doce sabor do néctar e entendeu que, só valorizou o doce, porque primeiro sentiu o amargo da medicina e sorriu. Quando ouviu um choro doído vindo de alguma folha abaixo e percebeu ser de uma lagarta!



Ciclos, todos temos!



Que possamos passar por eles e nos transformar em lindas borboletas!

Rose Kareemi Ponce

https://www.facebook.com/rosekareemiponce

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