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29/01/2018



...Ela resolveu abrir os olhos. Não sabe quanto tempo ficou ali, paralisada no escuro, não sabe exatamente todas as coisas que pensou ou sentiu, apenas que naquele momento, ela precisava abrir os olhos!

Era escuro, mas seus olhos aos poucos iam se acostumando e conseguindo ver as nuances, as sombras, o formato de todas as coisas que estavam a seu redor. Conseguia sentir os cheiros e distingui-los. Havia também o som de águas...eram gotas caindo e água corrente, um cheiro forte, quente e úmido tomava conta do ar.

Ficou em pé. Não tinha idéia de quanto tempo ficou sem colocar seus pés no chão, nem quanto tempo havia ficado ali, imóvel; completamente paralisada, se encolhendo em algum canto.

Quis dar os primeiros passos, as pernas doíam, mas, ela insistiu. O cansaço de ficar parada e o desejo do movimento eram maiores do que a dor, essa ela já conhecia bem e decidiu que não mais a queria.

Apoiando suas mãos na parede úmida, foi caminhando até chegar ao que percebeu ser um riacho, onde matou sua sede com aquela água naturalmente fresca. Ao primeiro gole, sentiu que a vida estava pulsando dentro dela novamente, como há tempos não sentia. Suas pernas ganharam força e assim, seguiu caminhando, percebendo que aos poucos, pontos de luz começavam a brilhar pelas paredes. Eram cristais que ao receberem pequenos raios de luz, iam mostrando suas formas, cores e emanando brilhos coloridos, que preenchiam sua alma de felicidade!

Ela estava viva!

Não importava quanto tempo havia ficado ali, paralisada, sentindo-se pequena e sem forças. Importava que nesse momento houvesse vida pulsando dentro de seu peito e todas as suas células vibravam e bailavam, numa dança cósmica de vida!

Ela estava viva e a cada passo em direção à luz mais forte ela sentia essa sensação. Vida!

Quando então o riacho que guiava com suas águas, ficou de tal forma azul, que quase dava para ouvir as vozes numa linda cantiga, chamando-a banhar-se. Ela então mergulhou e sentiu-se purificada!

Nada mais poderia tirar-lhe esse sentir!

Saiu das águas e continuou a caminhar até que uma grande luz a recebeu. Seus olhos se fecharam, mas, seus pés conseguiram sentir um local macio, um perfume doce tomou conta do ar e então, ela abriu os olhos e pode ver um colorido inebriante de flores que se espalhavam pelo campo e dançavam ao balançar do vento!

Ela estava viva!

Olhou para trás e se curvou diante daquela caverna imensa e escura que a recebeu, acolheu e ensinou durante ela não sabe quanto tempo, mas foi sua gestação...ela acabou de vir à luz da vida e aquela caverna, foi seu útero, sua casa, seu refúgio!

Não havia mais medos, nem angustias. Não havia mais dores em seu peito.

Ela estava viva e saindo da zona de conforto. Seus ossos doíam e seus olhos ainda estavam se acostumando aquela luminosidade, seus pés, reconhecendo novos terrenos!

Ela estava viva!

Tudo o que tinha ficado para traz em sua existência, tudo que havia vivido estavam lá, no escuro da caverna, não mais importava!

Ela estava viva e seguir em frente era o único movimento sensato a ser feito!

As vozes ainda cantavam uma canção serena, como que abençoando sua jornada!

Ela estava viva!

Ela estava grata!



Ela seguiu viagem!




Rose Kareemi Ponce

27/01/2018



Quando a vida ganha um novo sentido e você percebe profundamente o significado do sentimento de plenitude!
Quando o peito cresce porque o amor que se sente não cabe no antigo tamanho.
Quando o simples fato de olhar no rostinho de um serumaninho tão pequeno, os olhos simplesmente marejam...coisas de avó das águas!
Quando sua força para tornar o mundo um lugar melhor, simplesmente fica imensa e você percebe que nada pode te derrubar.
Quando você se torna escudo e protege com seu coração uma alma que tornou morada sua alma e a iluminou e abençoou com sua presença.
Quando você entende que nada aprendeu sobre amor e que chegou seu grande mestre e então se curva em reverência e honra.
Quando o universo te presenteia com sua mais brilhante estrela e então você percebe: Sou abençoada!
Sou grata!
Sou grata!
Sou avó.
Gratidão meu menino luz!
Gratidão Gael por sua existência na minha existência.
Gratidão Nanny, filha minha por gestar tão lindo ser!
Gratidão Leandro, por semente tão doce!
Amo vocês!
Amo nós todos!

15/01/2018




Não sou simpática nem sociável, ao contrário disso. Sou difícil de conviver, não sou dada a muitas amizades e prefiro o silêncio das línguas cansadas ao excesso de fala sem sentido.
Sou meio bicho do mato..adoro as cavernas internas, onde encontro a mim mesma refletida nos espelhos das águas mansas.
Sou caseira, não gosto de som alto nem de bagunça. Amo as estrelas e a lua, mas sou absolutamente solar.
Sou água. Escorro pelas pedras e vãos e não me prendo aos galhos.
Não sou de festas...nem de grandes reuniões..sou da casa tranquila, do livro do bom filme, da fogueira...da paz de espírito..do mate.
Sou abraço apertado e laço de fita.
Sou a força da onça e a delicadeza do vôo do beija flor.
Sou exigente comigo e com quem caminha a meu lado... não trago pra perto quem não tece comigo a teia do viver!

Rose Kareemi Ponce

10/01/2018











Ando "meditado" bastante em meus momentos de silêncio, que tem aumentado, sobre nosso caminhar e algumas vezes tem me chegado algumas certezas, no aqui e agora, como por exemplo: Erramos porque temos pressa. A pressa nos impede de respirar, de parar por instantes antes de falarmos, agirmos e reagirmos. A pressa nos impede de olharmos o mundo ao nosso redor e apreciá-lo, não nos dá tempo a contemplação.
A pressa nos afasta, nos faz tomar atitudes e falar coisas que certamente serão motivo de arrependimento.
Ao darmos um tempo, damos chance à nossas águas decantarem e se tornarem límpidas, antes de as derramarmos, envenenadas, sobre nossos irmãos do caminho.
Estamos vivendo uma angustia coletiva, porque ainda vivemos sob as energias da competição e comparação. Competimos para sermos melhores, somos ensinadas desde nossa infância a isso, a escola é uma das responsáveis, pois os alunos são "medidos por suas notas", competimos entre mulheres por causa de homens, competimos para sermos os melhores na empresa que trabalhamos, nos comparamos uns aos outros, mas queremos respeito a individualidade...onde mora a individualidade numa sociedade pasteurizada e absolutamente moldada?
Somos comandados pela tv que ligamos na sala de nossas casas, presenteamos nossos filhos com jogos violentos, caminhamos dando exemplos que não são positivos. Fazemos festas regadas a alcool mas não queremos que nossos filhos bebam ou se percam em drogas (álcool é uma delas). Exemplo, lembra?
Estamos perdidos olhando no entorno, esquecendo de olharmos para nosso caminhar, para nossas pegadas. Elas são o mapa da nossa história. Qual história estamos escrevendo com nossos passos?
Estamos todos gritando e quase ninguém ouvindo. Todos mergulhados em uma dor coletiva, sem percebermos de onde vem tudo isso: nasce em nós quando damos abertura dentro para nos comparar à outros, a competir com outros e sem dar oportunidade às energias mentais decantarem e chegarem ao coração, para ser nosso guia e matar nossa sede de nós mesmos, na paz e na harmonia de Ser apenas quem somos, como somos e nos entendermos abençoados por nosso individuo somente assim, acolheremos todas as outras histórias ao nosso redor, e teremos mais tempo para contemplar a grande obra que o divino nos deixou como presente!
Salvemos nossas crianças de nós e nós de nós mesmos...sejamos melhores hoje, para recriarmos um mundo melhor para todos!!
Vamos silenciar um pouco.
Vamos "parar" um pouco!
Vamos Ser bem mais!


Somos muito breves!
Sejamos cada vez mais leves!


Rose Kareemi Ponce

05/01/2018






2017......

Morri.
Perdi minha pele, arrancada por saturno. Fiquei nos ossos.
Senti minhas entranhas queimarem. Vazei minhas águas turvas.
Abracei o demônio inúmeras vezes e o agradeci outras tantas. Ele me levou ao inferno onde redescobri sombras esquecidas, dores adormecidas, onde contei em meus ossos, todos os golpes e os remontei esqueleto de mim mesma, numa nova versão.
Falei mais do que precisava e silenciei menos do que gostaria, mas não repetirei esses erros. O silêncio me chama para sua rede tranqüila.
Despedi-me de pessoas que gostaria de ter pela vida afora e trouxe pra perto surpresas incontáveis.
Fui sorteada pela loteria da vida, com presentes humanos de valores incontáveis que guardei no cofre do meu coração, para nunca os perder de vista.
Senti queimar meus preconceitos e fui queimada na fogueira de muitas vaidades, que sequer me conhecem.
Senti arder em brasa o espírito da ancestralidade em minha alma e os gritos de meus antepassados, que chamavam meu nome, incansavelmente: “Filha, esperamos sua volta”!
Encontrei irmãos de tribo e jornada, e desencaixei do sangue da carne. A alma me levou aos lugares que precisei estar.
Tropecei em pedras, duas, três vezes...mas as lições fizeram marcas indeléveis. Tatuaram no livro da minha pele, as marcas do crescimento e os aprendizados vividos.
Honrei pés e jornadas, Mãos e suas bênçãos. Curei maldições.
Senti o fel da bílis queimar o fígado e vomitei toda a raiva que insistia em fazer morada em mim.
Mergulhei fundo na lama das minhas memórias e dores pra renascer lótus, inexoravelmente purificada.
Estendi as mãos em auxilio e recebi flores nos pés.
Gritei muitas vezes sozinha, pedindo socorro aos céus; Os espíritos de luz sempre vieram trazer alento. Nunca estive só, senão por escolha.
Me entreguei em abraços e acolhi muitos braços.
Nadei nas águas da vida, me afoguei de sede. Retornei à tona amparada por um Manto Sagrado de Luz.
Sentei na beira do rio e vi Oxum me banhar. Amor, sei, não irá me faltar.
Pulei sete ondas, talvez mais, e Yemanjá pariu novamente minha alma pra seguir jornada.
Ogum veio e cortou a prepotência na espada da Lei e ensinou sobre a humildade dos pés descalços.
Fui menina, cresci, virei inúmeras mulheres em uma só. Morri.....renasci, bati asas, voei longe.....voltei!
Estou de volta ao início, com mais de trezentas outras novas casas para conhecer....cada dia uma porta se abre, uma janela se volta pro sol, uma estrada é trilhada, um aprendizado colhido, um amor semeado.
Recomeçar, reprogramar, refazer mas, o mais importante é fazer o novo, o que nunca foi feito, desabrochar...FLOR-E-SER!
Gratidão seu lindo, que me chacoalhou tanto, me descascou feito cebola e me trouxe desperta para um novo traçado, um novo mapa e assim, pisar em novos e sagrados territórios!
Fui guerreira e me fiz paz.
Bendito seja o Tempo!
Abençoado seja o Tempo!
Sagrado seja cada Espaço!
Sagrada vida que segue!

Rose Kareemi Ponce