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19/10/2016








Ela foi convidada a ir pro mar e lá se entregar...
Assim, chegando às areias de Odoyá, sentou-se e de olhos fechados ouvir as canções que Ela entoava e o perfume de maresia no ar. Ficou ali por um tempo não contado, mas sentido.
Quando então chegou uma índia anciã que a banhou de ervas, trazidas em uma bolsa de couro. Rezou em seus ouvidos palavras de força, dançou em volta da mulher que sentada estava e sentada ficou sentindo o canto penetrar sua pele, arrepiar seus pêlos e aguçar seu sentir.
A índia senhora, cavou fundo um buraco e chamou a mulher para ali se sentar. E então enterrada ela foi até o pescoço.
Ali, durante algumas horas, chorou se entregou às dores e às lembranças do ventre que a carregou e nutriu. Sentiu os medos de sua mãe e o quanto ela lutava para que o parto não acontecesse. Ali, enterrada nas entranhas da terra, ela sentiu as entranhas de sua mãe e todos os medos que afligiam seu coração, fazendo doer seu corpo como quem recebe doses altas do veneno do medo pelo cordão umbilical. Ali naquele “útero” de terra, ela se viu no útero da mãe, e rezou, chorou, gritou, pediu ajuda, vomitou toda bílis que estava parada em seu corpo, envenenando sua alma com raiva e deixou assim também o medo se ir....sem culpa, sem mágoas, sem mais a dor....e ela não se sentiu mal por ter ali, na terra, naquele útero abençoado, deixar todas suas angústias e percebeu que estava sim, sentindo todas as emoções do parto dolorido pelo qual passara, mas ao contrário do primeiro, ela não foi retirada a força, quando a senhora falou para nascer, lá estava ela, cavando com as unhas, chorando e gritando agradecida por poder renascer em espírito, curada das dores que o corpo e a mente carregaram por anos a fio em sua jornada. E ali, renascia inteira a guerreira. E ali, renascia plena a mulher. E ali renascia pacífica a alma. E ali ficavam, no útero da mãe, todas as lembranças que amarrava ela para que nascesse em laços o Ser que foi criado pela Grande Mãe para vir à Terra cumprir sua Sagrada Missão.
Ali, cansada, deitou-se no chão, com sua cabeça descansando no colo da anciã que a ninava, cantando cantigas de amor para que ela na força da Mãe voltasse a caminhar sem medo, sem raiva, sem amarras. Apenas o fluir das águas do mar percorrendo a alma que florescia e que tinha as raízes fincadas na terra sagrada.
Ali, ela conheceu os segredos da Sereia Sagrada e do Pai da terra....
Ali, ela virou mulher encantada.....ali a mulher, pariu a si mesma.....ali ela honrou sua mãe e todas suas ancestrais.
Ali ela curou suas descendentes


arte: Nubia Alfaro
imagem de site de busca

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