...Ela resolveu abrir os olhos. Não sabe quanto tempo ficou ali, paralisada no escuro, não sabe exatamente todas as coisas que pensou ou sentiu, apenas que naquele momento, ela precisava abrir os olhos!
Era escuro, mas seus olhos aos poucos iam se acostumando e conseguindo ver as nuances, as sombras, o formato de todas as coisas que estavam a seu redor. Conseguia sentir os cheiros e distingui-los. Havia também o som de águas...eram gotas caindo e água corrente, um cheiro forte, quente e úmido tomava conta do ar.
Ficou em pé. Não tinha idéia de quanto tempo ficou sem colocar seus pés no chão, nem quanto tempo havia ficado ali, imóvel; completamente paralisada, se encolhendo em algum canto.
Quis dar os primeiros passos, as pernas doíam, mas, ela insistiu. O cansaço de ficar parada e o desejo do movimento eram maiores do que a dor, essa ela já conhecia bem e decidiu que não mais a queria.
Apoiando suas mãos na parede úmida, foi caminhando até chegar ao que percebeu ser um riacho, onde matou sua sede com aquela água naturalmente fresca. Ao primeiro gole, sentiu que a vida estava pulsando dentro dela novamente, como há tempos não sentia. Suas pernas ganharam força e assim, seguiu caminhando, percebendo que aos poucos, pontos de luz começavam a brilhar pelas paredes. Eram cristais que ao receberem pequenos raios de luz, iam mostrando suas formas, cores e emanando brilhos coloridos, que preenchiam sua alma de felicidade!
Ela estava viva!
Não importava quanto tempo havia ficado ali, paralisada, sentindo-se pequena e sem forças. Importava que nesse momento houvesse vida pulsando dentro de seu peito e todas as suas células vibravam e bailavam, numa dança cósmica de vida!
Ela estava viva e a cada passo em direção à luz mais forte ela sentia essa sensação. Vida!
Quando então o riacho que guiava com suas águas, ficou de tal forma azul, que quase dava para ouvir as vozes numa linda cantiga, chamando-a banhar-se. Ela então mergulhou e sentiu-se purificada!
Nada mais poderia tirar-lhe esse sentir!
Saiu das águas e continuou a caminhar até que uma grande luz a recebeu. Seus olhos se fecharam, mas, seus pés conseguiram sentir um local macio, um perfume doce tomou conta do ar e então, ela abriu os olhos e pode ver um colorido inebriante de flores que se espalhavam pelo campo e dançavam ao balançar do vento!
Ela estava viva!
Olhou para trás e se curvou diante daquela caverna imensa e escura que a recebeu, acolheu e ensinou durante ela não sabe quanto tempo, mas foi sua gestação...ela acabou de vir à luz da vida e aquela caverna, foi seu útero, sua casa, seu refúgio!
Não havia mais medos, nem angustias. Não havia mais dores em seu peito.
Ela estava viva e saindo da zona de conforto. Seus ossos doíam e seus olhos ainda estavam se acostumando aquela luminosidade, seus pés, reconhecendo novos terrenos!
Ela estava viva!
Tudo o que tinha ficado para traz em sua existência, tudo que havia vivido estavam lá, no escuro da caverna, não mais importava!
Ela estava viva e seguir em frente era o único movimento sensato a ser feito!
As vozes ainda cantavam uma canção serena, como que abençoando sua jornada!
Ela estava viva!
Ela estava grata!
Ela seguiu viagem!
Rose Kareemi Ponce