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05/04/2018






Engana-se você que hoje festeja a condenação de Lula ao dizer que temos raiva no coração e que queremos qualquer custo uma revolução armados de foice e martelo. Ledo engano. A raiva não faz parte de nós, é isso que vocês não entenderam ainda. Não é a raiva que nos move, é o Amor. Ele nos faz caminhar e levantar os braços com os punhos fechados em sinal de luta. Luta contra a senzala novamente instituída. Luta contra o racismo nas comunidades e favelas, nas periferias esquecidas, nas escolas sem professores, sem carteiras, nas faculdades públicas sendo sucateadas. Luta contra o plano que leva a toda a “não elite” de volta ao chicote. Ao trabalho muitas vezes que dura 12 horas. Ao caminho de ida e volta pra casa que leva mais 4 ou 5 horas, restando pouco tempo para lazer, família, estudo.
Engana-se você que tem empregada penteando as franjas de seu tapete, de joelhos, que nós somos contra você. Somos contra a empregada de joelhos, alisando as franjas de seu tapete, levando para casa muitas vezes a dor da humilhação diária da patroa branca de olhos azuis dizendo que ela tem de comer escondido, onde as visitas “importantes” não possam vê-la. Afinal, é apenas e tão somente a empregada, que faz tudo na casa, menos ser chamada senhora. Senhora é a sinhazinha que dorme em seu quart de luxo e que recebe o café da manhã em bandeja de prata, sobre lençóis de algodão egipicio.
Engana-se você que temos raiva. Temos indignação por não compreender o que os fazem sentir-se tão importantes caminhando sobre tapetes persas enquanto há na sua porta o “vagabundo” que morre de fome. Mas como compreender a fome nunca passou por isso, só sabe que quem recebe bolsa família é tão vagabundo quanto aquele que morre a sua porta. Não compreende que, quem tem fome tem pressa, já dizia nosso saudoso Betinho.
Engana-se você que queremos transformar o Brasil em algazarra. Queremos um Brasil justo, para todos.
Engana-se você que somos contra as leis, ao contrário, queremos ver atrás das grades donos de aeroportos particulares, construídos com dinheiro das mesmas pessoas, que caminham nos chãos das fábricas. Queremos presos, donos de helicópteros com meia tonelada de cocaína, com nariz de endereço certo. Queremos presos senhores e senhoras da lei que recebem propina. Queremos presos os senhores que tomam conta da “justiça do país”, somando forças com siglas fora da lei que se espalham feito ervas daninhas por todas as direções, levando medo e toque de recolher nos confins desse país, nem tão distantes assim.
Engana-se você que pensa que os queremos torturados, eletrocutados e mortos nos quartéis ou ruas, queremos tão somente o direito de sonhar em sermos médicos, engenheiros, professores. Queremos o direito de não termos mais bolas de ferro nos pés, nem grilhões em nossos pescoços. Queremos ter o direito de escolha.
Engana-se você que somos todos partidários. Muitos de nós não queremos mais partidos, rompidos, quebrados. Queremos Seres que nos olhem nos olhos de frente, que nos abracem e nos diga que Somos Todos Iguais. Não queremos mais homens olhando do alto de seus tronos de merda, com seus pés sobre nossas cabeças.
Engana-se você ao dizer que somos baderneiros. Somos pacifistas.
Engana-se você que queremos violência. Ódio nunca foi curado com ódio, nosso caminhar é semeador de paz.
Engana-se você que queremos nossa bandeira vermelha. Queremos o verde cada vez mais verde e nosso, o azul de nosso céu trazendo a calmaria das noites estreladas, o amarelo de nosso ouro nos trazendo riquezas compartilhadas e o branco sendo a real representação da paz, que hoje anda manchada de vermelho, mas do sangue de muitos inocentes. Tal e qual a ditadura, só que hoje meio que querendo se disfarçar de liberdade.
Engana-se você sobre nós enquanto estoura sua champagne importada e come seu caviar com ovas de esturjão, que mata sua sede em sua água Blind ou Fillico, que queremos tomar o que é seu. Queremos ter direito a água potável para matar nossa sede e para tomarmos banho após um exaustivo dia de trabalho, e às vezes ao pão com mortadela para saciar nossa fome. Queremos ter direito a roupas simples, não precisamos de brasões bordados em nossos bolsos, lembrando a origem européia e decadente. Nossas famílias, muitas delas, provêm das senzalas e aldeias, foram escravizados ou mortos. Queremos ter algo que nos cubra a pele no frio e um teto sobre nossas cabeças. Queremos uma coisa que vocês tentam a qualquer custo nos tirar, chamada dignidade.
Engana-se você sobre nós todos sermos pobres coitados, iludidos, sem noção, idiotas sendo comandados.
Engana-se você pensando que não pensamos e que endeusamos um homem. Não queremos sua canonização, queremos apenas render nossas homenagens ao homem que mais fez por nós.
Engana-se você que pensa que silenciaremos. Estamos apenas despertando de longos de anos de escuridão.
Engana-se você que prendendo esse homem nos calará a voz.
Somos sementes e brotaremos mais fortes e nossas vozes unidas ecoarão pelo planeta mostrando ao mundo que aqui, ainda existe LUZ E UNIÃO.
Engana-se você que seremos separados....
Engana-se você!

Rose Kareemi Ponce

imagem: Alexandre Beck

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