Apaixone-se por um ser real
Sempre que estamos sozinhos ou pensando em nos relacionar, traçamos um esboço do ser que gostaríamos de ter ao nosso lado, criamos uma “forma” mental sobre a pessoa, tipo físico, onde ela trabalha o que pensa seus gostos, seus gestos e maneira de ver a vida e com isso, criamos expectativas, fazemos um traçado e vamos dando pinceladas com cores bem vivas para chamar nossa atenção, como um sinal vermelho se acendendo dentro da “mente”, dizendo: Perigo, não é o que você quer. É gordo (a), é magro (a), é feio (a) demais (o que as pessoas vão falar), é bonito (a) demais (como vou lidar com isso)!
Perigo, essa pessoa não pensa e age conforme o que você desenhou na sua mente, não chega na hora que você gostaria, não quer te ver todas as noites nem responde o que gostaria de ouvir!
Perigo, você não está no controle!
E assim, quando começamos uma relação jogamos sobre o ser “amado”, toda nossa estupidez e vamos moldando mentalmente o outro, conforme nosso bel prazer, afinal essa pessoa “tem quase tudo o que o queremos”, mas podemos deixá-lo mais parecidinho com nosso “desenho mental”, nossa projeção do próprio ego, tornando o outro, uma cópia fiel de nós mesmos. Como o outro, que nós sonhamos, desenhamos e desejamos, ousa ser diferente do que NÓS projetamos, mesmo que seja em apenas 1%? (pessoas medidas em porcentagens e relações sendo moldados por formas, fogo, martelo, e acima de tudo, ego).
E nessa dança de poderes, dois seres que podiam estar dançando valsa seguem a jornada disputando quem vai moldar quem, melhor, mais rápido e intensamente, pois quem chegar primeiro ao pódio, tem o controle da relação!
Controle da relação!
Queremos controlar o sentir, pensar e agir do outro, segundo nossos padrões e desejos. Escolhemos a roupa, o perfume, o trabalho, as palavras, a comida. Esquecemos que o outro é um indivíduo e quando nos apaixonamos, o fizemos pelo que É e certamente vamos nos desapaixonar, quando se tornar uma cópia do nosso ego.
Deixamos de rir das diferenças, fazer piadas das pisadas de bola, dos atrasos, do jeito largado de deixar o sapato no meio da sala, e não festejamos o “eu te amo” pela manhã, porque isso se tornou apenas mais um hábito, como o de dar bom dia mesmo que se esteja de mau humor!
Vamos desenhando expectativas, e criando decepções.
Vamos começando e terminando relações porque não conseguimos lidar com o outro e isso, em todas as formas de relações.
Precisamos permitir nos apaixonar pela pessoa que pisa no pé quando dança, porque ao final das contas, mesmo não sabendo dançar, ela está ali do nosso lado para aprender e dançar com a gente!
Podemos sim nos apaixonar pela pessoa que se atrasa, mesmo que seja às vezes por displicência, afinal nós também nos distraímos, nós também nos atrasamos, nós também certamente, não somos o desenho mental criado por aquela pessoa e ela, mesmo assim está ali, junto de nós. Podemos até discordar do que essa pessoa pensa, mas o respeito pela opinião alheia é a mão contrária do respeito por nossa opinião! Simples assim.
Assim deve ser uma relação de amor (isso engloba todas as relações). Onde todos crescem com suas diferenças e batem palmas para o caminhar do outro, fazendo-se presente nas suas escolhas, respeitando os contratos, agradecendo o que os une e re-conhecendo o que cria atritos para que os encaremos não problemas, mas como lapidação onde ambos crescem e transbordam. Não é assim, com atritos entre grãos de areia que a concha (aqui a coloco exemplificando o casamento) produz sua pérola (o crescer do amor e da alma)?
Uma relação para dar certo precisa aprender com todas as lições da caminhada, transmutando o que precisa, nutrindo o necessário, polindo a luz!
Apaixone-se por uma pessoa que chora, ri, fica brava, que anda de mãos dadas (ou não), que medite junte (ou não), que goste de dançar (ou não), que beba cerveja (ou não), que brinde até com café (ou não), que goste de trilha (ou não), que ame o mar (ou não), mas que seja real, não fruto de uma mente criando padrões e colhendo decepções. Apaixone-se pelo ser pleno, inteiro, com lados iluminados e sombrios, porque nós também temos ambos os lados e, a grande brincadeira dessa vida, é que nossa luz ilumine as sombras do nosso próximo e que a luz dele, ilumine a nossa, em um grande bailado, onde no fim todos ganham, porque a luz chega a cantos bem escondidinhos de nós mesmos!
Apaixone-se por alguém que esteja disposto a estar do seu lado em todas as circunstâncias e acima de tudo, que seja feliz por você ser quem é e que escolheu sua companhia para trilharem juntos, a trilha da vida. Ou uma parte dela!
Seja Feliz!
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