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15/11/2018



Somos engolidos diariamente e não nos damos conta disso. Seguimos tão no automático que, só despertamos quando algo quebra. Nos pára. Na marra.
Somos engolidos pela raiva alheia. Pela necessidade de ter razão. Somos engolidos cada vez que atendemos o chamado de alguém que nos diz o que sentir e como sentir, o que falar e como falar.
Eu pessoalmente senti isso profundamente apenas quando literalmente quebrei. Meu tornozelo foi a vítima e meu sinal.
Pare!
Observe atentamente o que tem feito e com quem. Porque atender as expectativas alheias?
Porque precisa ter opiniões sobre todas as coisas e, ainda que as tenha, qual o real motivo para expo-las?
Porque?
Porque ouvir as pessoas quando dizem que você está certa ou errada?
Porque ouvir quando elas te dizem que gostam de você assim ou assado?
Porque ouvir quando elas dizem que você é melhor no perfil esquerdo ou direito?
Ouvimos e o pior, atendemos porque ainda não estamos satisfeitos com nossa real imagem e porque queremos ser aceitos. Não como somos, mas ser aceitos, de qualquer forma.
Porque nos permitimos ser preenchidos com a indignação alheia?
Esses últimos meses foram exemplo clássico disso na minha vida.
Ouvi muitas coisas como essas: linda, feia, raivosa, etc...etc...etc...
Ouvi que mulher não deve ser assim ou assado...
Ouvi que uma Benzedeira pode ou não pode.
Ouvi tanto, que me afastei de mim mesma.
Porque temos de dar  palpites na vida e no comportamento alheio?
Porque temos de moldar o outro a nossa imagem e semelhança?
Quanto ouvi de pessoas queridas que eu devia mudar ou que eu era mara....que eu era ou não era, isso ou aquilo.
E quanto eu mesma fiz isso com outros.
Como posso caminhar no amor incondicional se condiciono o outro a ser o que ele não é apenas para caber nas minhas limitações?
Quando me permito expandir, deixo de olhar o outro como espelho ou modelo, porque fico satisfeita comigo mesma. Paro de encher o saco e apenas me observo dentro de um universo de possibilidades e as escolho segundo meu próprio EU.
Damos pitaco em tudo.
Mexemos no caldeirão do próximo.
Ditamos regras e vomitamos insatisfações.
Olhamos o externo o tempo todo e esquecemos de nos organizar por dentro. O amor dentro está fora de ordem.
O silêncio do não manifestar opinião, da não razão, da não lucidez é proveitoso, ensina, acrescenta e engrandece.
A observação das estradas percorridas, das pegadas, como rastreadores nos faz maiores do que o olhar curioso sobre a vida dos passantes. Só aprendemos realmente quando olhamos para dentro... Temos grilos falantes suficientes para ainda querermos dar conta dos grilos das mentes dos outros....
Quando voltamos para nós mesmos percebemos que sim, temos direito ao grito, ao palavrão, ao silêncio, ao não, temos direitos que vamos nos negando por medo da não aceitação do outro. FODA-SE.
Apenas nós compreendemos nossos sentimentos e sabemos a hora que precisamos gritar.
Apenas nós sabemos quando nosso copo enche e é necessário esvaziar.
Porque precisamos ainda hoje sermos as "damas" sem expressão ou vontade, sendo apenas o que os outros desejam de nossas ações e reações?
Porque não podemos apenas chutar o pau da barraca e mandar as favas tudo o que nos incomoda?
Ainda seguimos modelos e cobramos modelos alheios.
Queremos liberdade, mas só cobramos. Dos outros e de nós.
Acho que a maturidade nos faz soltar amarras. Mesmo que seja quebrando coisas.
    Ossos por exemplo.

Rose Kareemi Ponce

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