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14/10/2016







Em uma pequena vila de pescadores em uma ilha, contam as mulheres locais que quando uma mulher está para parir, o aviso vem do vento!

As mais novas nunca entendem bem essa história, mas sempre obtém a mesma resposta das anciãs do vilarejo: - Chegará o tempo que vocês ouvirão o vento e reconhecerão as mensagens.

Assim as meninas cresciam entre essa e outras “lendas” locais, que nutriam o feminino desde a mais tenra idade. Mas enquanto não chegava o tempo de ouvir o vento, elas brincavam com a terra, aprendiam com as ervas, liam os sinais das flores e sentiam o perfume da vida no ar. Aprendiam canções sagradas em volta do fogo nas noites de luz cheia, onde as mulheres desse local se reuniam para trocar experiências, ouvir as mais velhas e assim guardavam suas tradições e as sabedorias.

Quando uma das meninas fazia seu rito de passagem pessoal, quando chegava sua lua, todas as mulheres da vila dançavam e cantavam em homenagem aquela que deixava sua infância para agora atravessar a ponte para a juventude, começando a conhecer outros mistérios de sua feminilidade. Aprendia como plantar sua lua, rezos especiais para esse momento e quais plantas eram suas mestras durante esse tempo de amadurecimento. Aprendiam os mistérios do corpo feminino e o sagrado ato de gerar e parir vidas. Assim, as mulheres se sentiam nutridas em suas almas femininas e seguiam jornada entre o sagrado e seus afazeres pessoais, tão sagrados quanto.

Assim essa menina aprendiz, era acolhida por uma dessas anciãs, a que mais se aproximava de sua alma, para aprender o que mais alimentasse e fortalecesse seu Ser, único e sagrado, como diziam as avós.

Ela aprendia a arte de tecer, para nunca se esquecer de enfeitar a vida. A costurar, para unir pontos distantes de suas dúvidas e permitir nascer uma peça inteira de sabedoria natural. A fazer pães, para alimentar o corpo e compartilhar com as irmãs e irmãos de jornada. A pescar, para que não lhe faltasse a sabedoria de acessar mundos internos e multiplicar os alimentos. A dançar, para sua alma nunca se esquecer da alegria de sua criança sagrada e a cantar, para honrar as ancestrais com sua voz. Além de tantos outros ensinamentos que lhe fossem úteis para a vida toda, durasse ela um dia ou 100 anos.

Ao engravidarem, depois de todo o caminhar de sua jornada, sabiam que aprenderiam a ouvir o vento e todas as histórias que com ele chegariam!

Durante toda gravidez, a parteira se reunia com as grávidas e lhes contava segredos e mistérios ancestrais, que permeavam a vida de todas as mulheres locais desde os primórdios. A vozes do vento, dizia a senhora, vem trazendo consigo as bênçãos do tempo e esse as memórias das nossas avós.

Quando então chegava o dia de parir as crianças, além das mudanças de lua havia também o canto dos ventos que era ouvido por todos, mas apenas as parideiras conseguiriam saber o significado da cantiga e ver os espíritos guardiões que chegavam. E por toda a vila era possível durante a noite anterior aos partos, que sempre aconteciam em números pares, mistérios esse que nem mesmo as mais antigas ousavam contar em suas contações, podia-se sentir o vento forte batendo as ondas do mar, remexendo as folhas e contando cantigas de amor.

As grávidas esperavam juntas, perto de uma fogueira acesa para verem os espíritos que ali passavam há séculos e séculos, cuidando da vida e de suas mulheres perto de parir. Então podiam ver espíritos de mulheres, com seus cabelos esvoaçantes e vestidos de vento, soprando o “mal” para fora da ilha e cantando canções chamando e abençoando as almas dos pequenos que se preparavam para nascer, cantando no ouvido de cada mulher o nome da alma que se aproximava.

Os espíritos femininos passavam a noite nesse rito até que os primeiros raios de sol brilhassem no leste, quando então se iam para longe, para o lar das guardiãs e de lá só sairiam novamente para cantar a vida e soprar as maldições para fora dali.

Então, as meninas que cresceram e estavam perto a parir...sabiam que a vida seguia linda e leve e seus filhos e filhas estariam para todo o sempre, até que sua hora de partir chegasse, protegidos e amparados.

Assim, naquela pequena vila, na pequena ilha, a vida se renovava e o fluir do tempo era assim, o fluir do tempo!




Um comentário:

  1. Boa Noite Rose?
    Quando vem a SP e onde?!
    Gostaria de ter mais informações!
    Grata Wagna Soares

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