Uma longa jornada de aprendizado
Caminhando pela mata, observando os arbustos, flores, cores e aromas, os mais diversos cantos de pássaros e animais caminhando em paz. Sofia percebe uma porta no meio de uma pedra, iluminada por uma luz alaranjada com o número 1 marcando a frente. Curiosamente abre a porta e se depara com uma senhora de longos cabelos brancos, brincos e colares de penas também em tons alaranjados, sentada em uma cadeira de palhas, escrevendo atenta ao papel sobre a mesa.
A senhora, pede para que ela se sente em frente a ela, serve um chá perfumado de alecrim e sorri. Sofia não entende nada, tem a sensação de já ser esperada nesse canto acolhedor em meio à mata. Uma casa dentro da pedra, uma lareira que tremulava o fogo e mantinha a casa aquecida e acolhedora. Pegou a xícara nas mãos e sentiu o perfume do alecrim misturado ao mel que acabara de colocar para adoçar o chá e sentiu uma doce sensação de paz.
Aqui, disse a anciã, esse mundo era o paraíso. Todos nessa grande casa chamada Terra, se respeitavam, havia equilíbrio ente os elementos. Nós ouvíamos as necessidades da Mãe, cuidávamos de todos os seus filhos, todos os seres. Entendíamos que tudo e todos estão conectados por fios da criação. Sabíamos o tempo das coisas, de arar a terra, de adubar, de semear, de esperar as sementes brotarem e cuidar de sua criação até o fruto, passando pelas flores.
Sabíamos o tempo do desapego, do cuidado, de ir e vir. Cuidávamos porque nos entendíamos irmãos.
Éramos pertencentes à Terra. Esse sentimento de pertencimento falta hoje aos seres desse planeta e por isso você foi chamada aqui, para que desperte esses conhecimentos dentro de você, eles já estão aí, basta relembrar suas células. Você precisa se lembrar, pois a partir de hoje, serás a guardiã dessa sabedoria e terá como responsabilidade, repassá-la às suas irmãs de jornada. Somente assim ela não se perderá.
Dizendo isso, terminou de escrever e entregou o papel para Sofia, que ao ler percebeu que ali estava escrito o que a anciã acabara de contar. Ao chegar ao fim do texto, o papel se desmanchou em suas mãos.
A senhora levantou-se rindo e disse para Sofia que continuava encantada com tudo o que estava acontecendo: Vou indo filha minha. Sigo viajem no tempo e abraçando a moça encantada, também se diluiu com a brisa suave que soprou na casa, ao mesmo tempo em que uma porta surgiu nos fundos. Essa tinha uma luz acinzentada acesa, iluminando o número 2.
Sofia abriu a porta e dentro havia outra caverna, sem animais ou plantas, mas tão aconchegante quanto à primeira “casa” que entrou.
Nela havia uma senhora vestida com longo vestido também em tom cinza que caminhava com uma vela nas mãos enquanto iluminava as paredes que tinham escritos em um idioma que ela não conhecia. A senhora parecia que rezava ao ler cada palavra ou frase que ali estavam escritas.
Chamou Sofia para perto e entregou-lhe a vela. “Vem filha, caminhe comigo. Abra seus olhos e leia a história da humanidade, da criação do infinito, perceba quantas verdades ditas aqui. Perceba a sutil diferença entre a verdade de cada ser, cada coração. As verdades filha soam muito pessoais e todas são verdades, ainda que para nós, sejam apenas distrações, por pensarmos diferentes. Respeitar todas as formas de verdade é conseguir alcançar o sagrado. É saber que ser imparcial ao ouvirmos a verdade alheia nos torna aprendizes dessa verdade, enquanto que ao darmos as costas ou entrarmos em embate, nos coloca como autoritários. A verdade não precisa de autoridade, precisa de corações.
Sermos tolerantes e respeitosos com a verdade do outro, nos torna grandes. Aprender isso nos auxilia no caminhar. Quando quiser saber da verdade do universo, encoste sua cabeça em uma pedra, abra seus olhos para o que ali está “escrito” pelo senhor do Tempo e conhecerás a Verdade.
Assim, ao terminar de explicar sobre a verdade, a anciã pegou a vela de volta das mãos de Sofia e disse: “Segue por aquele corredor filha, ali na frente encontrará outra porta, mas não se esqueça de ouvir sempre o coração, nele habita a Perfeição”.
Assim, apagou a vela e sumiu no escuro da caverna, deixando Sofia ali, parada, sentindo-se ao mesmo tempo confusa e em paz. Foi pelo corredor indicado pela anciã e a porta estava ali com uma luz marrom a ilumina o número 3. Ela abriu a porta e se viu entrando no tronco de uma grande árvore, uma casa cheia de musgo no chão, perfumada de orvalho. Sentada em uma poltrona na mesma cor marrom, de frente para a lareira, uma senhora cuidava de uma loba machucada. Havia tanto amor naquele gesto que Sofia se emocionou e sentou-se no chão próximo a senhora, que olhou amorosamente para ela dizendo: “O tempo das coisas precisam ser respeitados minha filha. Essa loba aqui está no fim de seus dias aqui e precisa de atenção e carinho, não consegue comer sozinha, precisa que eu dê alimento em sua boca. Mas, ela vai partir seguir viagem, nada posso fazer quanto a isso. Essa é aceitação da verdade da vida. É imutável, ainda que eu quisesse que ela ficasse mais tempo, a aceitação dessa verdade me permite não sofrer, mesmo que a dor aconteça. Aceitar nossas fortalezas e fraquezas, aceitar nosso tempo, não “brigar” com o inevitável. Isso faz com que nossa mente se expanda. Na aceitação, na compreensão, na compaixão, mora a sabedoria. Mas acima de tudo, ganhamos a compreensão que tudo é vida, cada semente que volta ao solo, é continuidade da vida acontecendo. Ela vai, mas deixa sua prole, sua vida está em continuidade. A vida é solo fértil filha. Terminando de falar, apontou para sua direita onde uma porta apareceu dessa vez em tom claro, meio bege que iluminava o número 4. Ela entrou e viu o que definiu em seu coração como “o próprio encantamento manifesto”. Era uma casa cheia de estrelas brilhando e no centro da casa uma anciã vestindo um manto na mesma cor bege estava sentada com um cachimbo nas mãos e convidou-a a sentar no chão, no tapete de palhas frente ao fogo. Deu o cachimbo em suas mãos e disse: Apenas uma vez puxe. Assim Sofia o fez e de repente deitou-se, pois um sono profundo sentiu. Viu-se fora do corpo, viajando entre as estrelas, mas, sentia-se perdida entre tantos brilhos, sentiu certo medo, não sabia o que fazer ou para onde ir. Ouviu uma voz mansa que tomava conta de todo “espaço” dizendo. Apenas confie. Sua confiança é o que fará você encontrar seu caminho. Ouça seu coração, sua intuição, saiba diferenciar o que é a mente, o que é a verdade se manifestando. Ouça no silêncio das estrelas a voz que te guiará na escuridão da noite. A lição do escuro é você aprender a confiar na intuição. Navegar pela noite sem confiar na intuição, é navegar cegamente. As sombras enganam somente seu coração te levará a próxima porta, a seguir jornada. Silencie Sofia. Silencie.
Assim Sofia parou, deixou a mente aquietar e olhando mais atenta para a imensidão que brilhava, percebeu que algumas estrelas brilhavam mais, como setas apontando um caminho. Foi caminhando, seguindo as estrelas quando se deparou com um portal, com uma intensa e negra luz como somente a noite sem estrelas e lua pode ser. A lâmpada negra que brilhava iluminava o número 5. Ela atravessou o portal e se deparou com o mais profundo silêncio que já conhecera. Ali mergulha nesse vácuo absoluto, sentiu o peito apertar, certo medo tomar conta, mas, lembrou-se das lições da porta anterior: Confie na intuição. Sentou-se no chão, quando viu um vulto de cabelos brancos passando. Forçando um pouco mais a atenção de seus olhos percebeu ser uma senhora vestindo um longo vestido preto. Apenas seus olhos azuis e sua cabeleira branca podiam ser vistos na negritude silenciosa.
Ela, a anciã, não falava nada, caminhava quase flutuando com a barra de seu vestido tocando o chão enquanto parecia arrastar vagalumes, levantando brilho do chão. Sofia foi sentindo-se tomada por uma Presença tão intensa quanto à escuridão do lugar e essa Presença a remetia ao que entendia por divino. Uma Presença Silenciosa e Provedora. Chorou emocionada quando percebeu que não eram palavras que a ensinavam, mas, as emoções e sentimentos que tomavam conta que faziam cada célula de seu corpo recordar da sua mais remota essência, sua forma primordial. O silêncio, sentiu ela é o Mestre de todas as jornadas e a resposta para todas as perguntas.
Então, uma espiral de estrelas se fez e uma porta imensa surgiu em sua frente, com uma luz vermelha com de sangue iluminando o número 6.
Entrando pela espiral, atravessou o batente da porta e chegou a uma sala com muitos livros feitos a mão, costurados delicadamente com cores intensas, um perfume de rosas tomou conta do ar e uma linda senhora de vestido vermelho se aproximou e disse: Venha criança, sente-se aqui perto do fogo e escute as histórias que tenho para contar. Ouça-as com o coração.
A senhora então começou a contar uma história atrás da outra, e a cada história sentia uma ferida se fechando em sua alma, lágrimas de puro bálsamo caiam sobre seu rosto enquanto um sentimento de paz tomava conta de seu ser, causando arrepios na pele, como quem dizendo: Estou chegando em casa.
Sofia percebeu que a anciã contava as histórias de forma lúdica, vez ou outra ria-se ao contar um causo e explicava que rindo a vida torna-se mais leve e os aprendizados ganham doçura. Assim o sagrado e o profano dançam juntos, no aprendizado da vida. Ela prendia sua atenção como criança que escuta um conto de fadas, mas sabia que eram contos de cura e que o poder dessa cura, estava nas palavras que pronunciava. Eram doces, alegres, traziam em si uma fé inabalável e uma força intensa. Assim deveria ser a vida, compreendeu ela.
Então Sofia levantou-se e ao som dos contos da anciã, dançou como se escutasse uma música. A música da vida estava sendo cantada em seus ouvidos e ela se percebeu feliz como nunca havia sentido antes.
Distraída em sua dança não percebeu que seguia livremente em direção a próxima porta que tinha uma lâmpada amarela em formato de girassol iluminando o número 7.
Dentro, a abuela linda de cabelos trançados e enfeitados com flores minúsculas flores amarelas e vestia um manto da mesma cor. Na mesa, velas amarelas iluminavam a mesa farta, com alimentos coloridos. Ao fundo uma música alegre tocava, enquanto pássaros dançavam de um lado para o outro, bailando junto às abelhas, enquanto um gato se espreguiçava sobre o tapete.
Foi serviço um chá de hibisco, na mesa florida em frente ao fogo, que parecia tilintar nas mesmas cores amareladas. A abuela era pura doçura em seus olhos castanhos. Quase uma carícia na alma o olhar dela.
Ela falou sobre a liberdade dos seres, do respeito que precisamos ter em todos os aspectos, do acolher cada ser encontrado pelo caminho, pois, cada um deles era manifestação do amor divino na terra. Todos devem ser amados igualmente e incondicionalmente. Que o amor é a medicina que livrará o mundo das mazelas, das chagas nas almas. Amar incondicionalmente é não ter posses pelos seres, apenas companhia na jornada. Que nada é nosso, mas que tudo nos é presente.
As pessoas filha amada, precisam aprender sobre o desapego das coisas, amar incondicionalmente um pássaro, é permitir-lhe o vôo. Amar incondicionalmente uma víbora é respeitar seu bote e compreender sua essência, não querendo mudar seu comportamento. Bastando atenção para não ser picado. Amor, filha, é liberdade.
Ao terminar sua fala levantou-se e puxou Sofia para um abraço. O abraço mais amoroso que ela já havia sentido na vida. A abuela então falou em seu ouvido: “Receba meu amor e espalhe por todos os cantos e direções que você for, seja a partir de hoje a portadora do amor incondicional para poder ser exemplo desse caminhar”.
Assim, soltou-se do abraço e apontou para Sofia o caminho que levaria ela à próxima porta. Ela caminhou até uma ponte que tinha uma luz azul que iluminava o número 8 sobre o caminho até um lago com águas da mesma cor intensa.
Ali uma velha senhora vestida com tecidos azuis em tons mais claros que as águas do lago, manuseava ervas, potes, ungüentos. Havia um caldeirão fervendo com muitas ervas que perfumavam o ar, além das que estava a secar penduradas sobre o fogo que aquecia aquele laboratório mágico.
Estou preparando um banho para um rito de passagem, venha, ajude-me a picar essas ervas para colocar no caldeirão. Precisamos usar as ervas certas para cada tipo de mal, cada tipo de dor. Essas são para ajudar que o espírito que está para terminar sua viagem nesse plano, faça sua passagem de forma tranqüila e serena e ajudando com os rezos certos, possa ser direcionado aos seus amados. Toda vez que auxiliamos um ser a encontrar sua família no astral mais rápido, diminuímos o sofrimento da saudade dos que ficam. Também preparamos os chás para os que ficam, para compreenderem que tudo são ciclos, do nascimento a morte, da semente ao fruto. Para que haja espaço para uns nascerem, outros precisam morrer. São os ritos da natureza. Para que o verão chegue à primavera precisa aceitar deixar de florescer, para que o outono venha, o sol precisa aprender a descansar, o inverno só vem quando as folhas caírem e assim, abrirem espaço para o broto, novas folhas para proteger nova criação chegando. Isso é vida acontecendo. Conhecendo as ervas certas, as palavras certas, a energia certa, curamos a ferida dos corpos que ficam e das almas que vão, das almas machucadas que ficam presas dentro dos corpos que não sabem como se curar, até que uma de nós chegue com sua sabedoria.
Curamos feridas e precisamos estar em paz com as nossas pessoais Sofia, em harmonia com nossas águas, onde moram todas nossas emoções e essas, são cura ou doença. Só nos curamos quando entregamos. Solta a dor que a cura vem.
Então a velha senhora estendeu um copo com água para Sofia, que bebeu deliciosamente. Não tinha percebido como estava com “sede”, antes de beber dessa água, azul como o oceano.
Ao terminar de beber percebeu Sofia, que estava em outro lugar, de frente para uma porta com uma luz verde iluminando o número 9. A porta estava aberta, Sofia só fez atravessar e ver que estava no alto de uma montanha onde uma senhora com um xale verde com longas franjas, apreciava o por do sol com sua cuia de mate nas mãos. Sofia sentou-se a seu lado, observando aqueles tons de verde das planícies abaixo, junto com as árvores que cobriam as montanhas, que estavam ali, todos bordados no xale que cobria os ombros daquela linda abuela.
A senhora perguntou: O que você vê ali Sofia? Apontando para frente. O por do sol abuela. Observe mais atentamente filha, o que você vê ali? O horizonte onde está acontecendo o por do sol, senhora. Certo, e o que te lembra o horizonte filha? Sofia fixou em silencio pensando, então a abuela diz: “O futuro amada criança. O horizonte é o futuro. Nessa fase nos tornamos guardiãs do futuro. Somente assim o conhecimento se manterá, quando assumimos essa responsabilidade, de guardarmos o passado para construirmos sobre solo firme o futuro das novas gerações. Para isso minha menina, você precisa compreender-se interna e profundamente, sempre olhando para dentro de você e buscando sua verdade interior, onde é construída sua solidez. Onde você apenas É, assim assumirá ser a Manifestação e não terá medo de trazer seus sonhos à terra.
Ao terminar de falar um “buraco” na parede ser formou e uma escada apareceu. A abuela fez menção de que Sofia deveria seguir por aquele caminho e dando um sorriso doce, se despediu.
Sofia subiu as escadas e se deparou com uma nova porta onde uma luz cor de rosa brilhava sobre o número 10.
Sofia entrou e ficou encantada com a quantidade de rosas cor de rosa haviam ali, espalhadas por vários pequenos jardins, que formavam um círculo e no centro uma nova abuela estava sentada a tecer algo no tear. Ela pediu para que Sofia sentasse a seu lado, no outro tear que havia.
A resposta foi: Não sei tecer abuela.
Você já tentou, retrucou a senhora. Tente, somente assim coloca em movimento a energia do aprendizado. Tentar nos alimenta a criatividade, desenvolve nossas habilidades de materializar nossos sonhos e idéias, de criar a jornada de nossas vidas.Teça, você verá sua força de vontade criar um vórtice poderoso de energia, que é a auto-expressão. É necessário nutrir isso, nossa auto-expressão, pois é o mapa de nossas almas. O que criamos a partir de nós, tem vida.
Sofia foi ouvindo e tecendo e ao se dar conta havia feito um xale com o desenho do por do sol que acontecia a frente, que completava o desenho dos vastos verdes do xale da abuela.
A senhora levantou-se, tirou o xale do tear e cobriu Sofia com um beijo em sua fronte.
Vai filha, segue viagem e siga em paz.
A abuela saltou do penhasco e um lindo gavião bailou nos céus.
Sofia virou-se buscando uma saída e viu uma nova porta com uma luz branca sobre ela, iluminando o número 11.
Sofia adentrou aquela porta e encontrou um lindo jardim com flores brancas de todas as espécies, uma primavera florida fazia sombra para uma mesa com toalha de renda tão alva quando as nuvens que voavam no céu.
Ao dar o primeiro passo, Sofia percebeu que suas roupas também eram brancas e soltas, balançavam com o vento. Eram também da mesma cor da roupa da senhora que balançava na rede.
Ao perceber a chegada de Sofia a anciã se levantou caminhou suavemente até ela.
Sofia percebeu sua postura ao caminhar e sua leveza nos passos. Não fazia barulho, altiva, andava ereta como uma deusa e caminhava com certeza nos passos.
Ela abraçou Sofia e convidou-a a caminhar com ela. Vê aquele gavião Sofia, como voa sem se importar se os outros que estão ao lado o observam? Percebe que para ele não importa os olhares e opiniões, mas apenas como ele está voando? Se ele parar de observar suas próprias realizações, jamais conseguirá voar, irá sempre tentar ser igual ou superior a alguém. Isso traz sentimento de tristeza, pois ao começarmos esse caminho, nunca terá fim. Sempre estaremos buscando ser melhor que o outro. Mas nunca aprimoraremos quem somos de verdade. Em cada um de nós há uma história, todos nossos ancestrais falam por nós. Somos a voz de cada um deles no aqui e agora e para ouvi-los precisamos trilhar a vida com integridade, assim seremos dignos de seus conhecimentos. Caminhar com sabedoria de quem se é, nos torna ao mesmo tempo forte e serena. Porque força não precisa ser bruta e serenidade deve caminhar ao lado dos fortes, para que eles não se percam da Justiça. Isso é caminhar com as palavras. Caminho mostrando o que sou.
Deitou-se a anciã em meio às flores brancas, sorriu para Sofia, que se sentia imensa, e desapareceu, misturando-se em suas vestes brancas.
Sofia ficou ali por uns minutos ainda, sentindo aquela intensidade dentro dela, até que a primavera começou a mexer-se formando uma porta e de dentro uma de suas flores brancas uma luz púrpura iluminava o número 12.
Sofia entrou pela porta e se deparou com muitos véus balançando, véus da mesma cor da luz da porta, muitas lavandas floridas e um perfume inebriante no ar. Perto, um altar onde uma senhora com um manto também na cor púrpura, estava ajoelhada e uma vela violeta iluminava a imagem da Mãe. A senhora falou para que ela se ajoelhasse ali junto e que rezassem juntas em Gratidão à vida.
Quanta caminhada em filha? Disse a senhora
Quanto aprendizado a Mãe lhe ofertou nesses momentos, seu coração deve estar pulsando em gratidão. Reze filha, reze e agradeça à vida por tamanha benção, agradeça cada aprendizado, cada pedra que lhe ensinou a estar mostra, cada espinho que mostrou cuidado e cada pétala que doou seu perfume. Agradeça a cada sinal que Ela enviou a você filha em sua mais pura demonstração de amor. Agradeça filha.
Sofia caiu em prantos. Soluços de alegria tomaram conta de seu corpo, suas lágrimas banhavam seu rosto e lavavam sua alma. Ela estava sentindo-se plena.
Olhava a imagem da Mãe e isso trazia mais e mais alento, pois sabia que era apenas um sinal de que Ela nunca a deixava só em sua jornada. Isso era benção.
A senhora então, levantou-se, pegou a imagem e entregou nas mãos de Sofia dizendo: Leve essa imagem à próxima velha que encontrar. Siga por ali e mostrou um caminho que começou a brilhar. Sofia seguiu percebendo os cristais mais puros que mostravam o caminho até a próxima porta que tinha um cristal reluzindo, num prisma de cores sobre o número 13.
Sofia então se deparou com uma sala repleta de cristais, tudo era cristalino ali. A anciã usava como adornos, colares, anéis e brincos de cristal. Havia sobre sua sala uma enorme pirâmide de cristal e era quase possível perceber a transformação das energias que ele fazia. Era um computador, transformando e decodificando informações. Havia uma prateleira sobre a lareira, onde 12 caveiras de cristal brilhavam, havia “cheiro” de ancestralidade todo o local.
Sofia entregou a imagem da Mãe nas mãos da anciã, que lhe agradeceu e ofertou um cristal em forma de pirâmide com um cordão feito com contas de cristal transparente dizendo:
Você realizou com maestria toda sua jornada filha. Aprendeu, ouviu, silenciou, sentiu e agora precisa deixar para traz tudo, ficando apenas com a sabedoria dos conhecimentos, assim abre espaço para reaprender, e saberá guardar em sua alma quão difícil é a jornada, assim jamais diminuirá uma irmã no caminho, com sua opinião pessoal, jamais deixará de amar um irmão do caminho porque errou, será a própria visão divina através de seus olhos, terá o amor da Mãe em seu coração e espalhará a semente do caminho da beleza em seus passos.
Quando somos acolhedores, ajudamos todos a realizarem suas transformações pessoais. Para ir para o casulo, precisamos sentir que somos protegidos.
Segue firme e confiante, uma etapa de sua jornada terminou. Com mestria você veio até aqui, agora descanse.
Falando assim a anciã colocou o cordão no pescoço de Sofia, deu um beijo em sua testa e despediu-se.
Sofia abriu os olhos e estava deitada, no caminho da floresta, com os mesmos pássaros cantando, mas mesmas flores e os mesmos animais andando calmamente. Ela olhou novamente e disse para si mesma, “não são os mesmos, apenas parecem iguais. Colocou a mão no pescoço e sentiu o colar de cristais. Sorriu!
(Por gentileza, compartilhem no Facebook com os devidos créditos - Gratidão)
Rose Kareemi Ponce
Caminhando pela mata, observando os arbustos, flores, cores e aromas, os mais diversos cantos de pássaros e animais caminhando em paz. Sofia percebe uma porta no meio de uma pedra, iluminada por uma luz alaranjada com o número 1 marcando a frente. Curiosamente abre a porta e se depara com uma senhora de longos cabelos brancos, brincos e colares de penas também em tons alaranjados, sentada em uma cadeira de palhas, escrevendo atenta ao papel sobre a mesa.
A senhora, pede para que ela se sente em frente a ela, serve um chá perfumado de alecrim e sorri. Sofia não entende nada, tem a sensação de já ser esperada nesse canto acolhedor em meio à mata. Uma casa dentro da pedra, uma lareira que tremulava o fogo e mantinha a casa aquecida e acolhedora. Pegou a xícara nas mãos e sentiu o perfume do alecrim misturado ao mel que acabara de colocar para adoçar o chá e sentiu uma doce sensação de paz.
Aqui, disse a anciã, esse mundo era o paraíso. Todos nessa grande casa chamada Terra, se respeitavam, havia equilíbrio ente os elementos. Nós ouvíamos as necessidades da Mãe, cuidávamos de todos os seus filhos, todos os seres. Entendíamos que tudo e todos estão conectados por fios da criação. Sabíamos o tempo das coisas, de arar a terra, de adubar, de semear, de esperar as sementes brotarem e cuidar de sua criação até o fruto, passando pelas flores.
Sabíamos o tempo do desapego, do cuidado, de ir e vir. Cuidávamos porque nos entendíamos irmãos.
Éramos pertencentes à Terra. Esse sentimento de pertencimento falta hoje aos seres desse planeta e por isso você foi chamada aqui, para que desperte esses conhecimentos dentro de você, eles já estão aí, basta relembrar suas células. Você precisa se lembrar, pois a partir de hoje, serás a guardiã dessa sabedoria e terá como responsabilidade, repassá-la às suas irmãs de jornada. Somente assim ela não se perderá.
Dizendo isso, terminou de escrever e entregou o papel para Sofia, que ao ler percebeu que ali estava escrito o que a anciã acabara de contar. Ao chegar ao fim do texto, o papel se desmanchou em suas mãos.
A senhora levantou-se rindo e disse para Sofia que continuava encantada com tudo o que estava acontecendo: Vou indo filha minha. Sigo viajem no tempo e abraçando a moça encantada, também se diluiu com a brisa suave que soprou na casa, ao mesmo tempo em que uma porta surgiu nos fundos. Essa tinha uma luz acinzentada acesa, iluminando o número 2.
Sofia abriu a porta e dentro havia outra caverna, sem animais ou plantas, mas tão aconchegante quanto à primeira “casa” que entrou.
Nela havia uma senhora vestida com longo vestido também em tom cinza que caminhava com uma vela nas mãos enquanto iluminava as paredes que tinham escritos em um idioma que ela não conhecia. A senhora parecia que rezava ao ler cada palavra ou frase que ali estavam escritas.
Chamou Sofia para perto e entregou-lhe a vela. “Vem filha, caminhe comigo. Abra seus olhos e leia a história da humanidade, da criação do infinito, perceba quantas verdades ditas aqui. Perceba a sutil diferença entre a verdade de cada ser, cada coração. As verdades filha soam muito pessoais e todas são verdades, ainda que para nós, sejam apenas distrações, por pensarmos diferentes. Respeitar todas as formas de verdade é conseguir alcançar o sagrado. É saber que ser imparcial ao ouvirmos a verdade alheia nos torna aprendizes dessa verdade, enquanto que ao darmos as costas ou entrarmos em embate, nos coloca como autoritários. A verdade não precisa de autoridade, precisa de corações.
Sermos tolerantes e respeitosos com a verdade do outro, nos torna grandes. Aprender isso nos auxilia no caminhar. Quando quiser saber da verdade do universo, encoste sua cabeça em uma pedra, abra seus olhos para o que ali está “escrito” pelo senhor do Tempo e conhecerás a Verdade.
Assim, ao terminar de explicar sobre a verdade, a anciã pegou a vela de volta das mãos de Sofia e disse: “Segue por aquele corredor filha, ali na frente encontrará outra porta, mas não se esqueça de ouvir sempre o coração, nele habita a Perfeição”.
Assim, apagou a vela e sumiu no escuro da caverna, deixando Sofia ali, parada, sentindo-se ao mesmo tempo confusa e em paz. Foi pelo corredor indicado pela anciã e a porta estava ali com uma luz marrom a ilumina o número 3. Ela abriu a porta e se viu entrando no tronco de uma grande árvore, uma casa cheia de musgo no chão, perfumada de orvalho. Sentada em uma poltrona na mesma cor marrom, de frente para a lareira, uma senhora cuidava de uma loba machucada. Havia tanto amor naquele gesto que Sofia se emocionou e sentou-se no chão próximo a senhora, que olhou amorosamente para ela dizendo: “O tempo das coisas precisam ser respeitados minha filha. Essa loba aqui está no fim de seus dias aqui e precisa de atenção e carinho, não consegue comer sozinha, precisa que eu dê alimento em sua boca. Mas, ela vai partir seguir viagem, nada posso fazer quanto a isso. Essa é aceitação da verdade da vida. É imutável, ainda que eu quisesse que ela ficasse mais tempo, a aceitação dessa verdade me permite não sofrer, mesmo que a dor aconteça. Aceitar nossas fortalezas e fraquezas, aceitar nosso tempo, não “brigar” com o inevitável. Isso faz com que nossa mente se expanda. Na aceitação, na compreensão, na compaixão, mora a sabedoria. Mas acima de tudo, ganhamos a compreensão que tudo é vida, cada semente que volta ao solo, é continuidade da vida acontecendo. Ela vai, mas deixa sua prole, sua vida está em continuidade. A vida é solo fértil filha. Terminando de falar, apontou para sua direita onde uma porta apareceu dessa vez em tom claro, meio bege que iluminava o número 4. Ela entrou e viu o que definiu em seu coração como “o próprio encantamento manifesto”. Era uma casa cheia de estrelas brilhando e no centro da casa uma anciã vestindo um manto na mesma cor bege estava sentada com um cachimbo nas mãos e convidou-a a sentar no chão, no tapete de palhas frente ao fogo. Deu o cachimbo em suas mãos e disse: Apenas uma vez puxe. Assim Sofia o fez e de repente deitou-se, pois um sono profundo sentiu. Viu-se fora do corpo, viajando entre as estrelas, mas, sentia-se perdida entre tantos brilhos, sentiu certo medo, não sabia o que fazer ou para onde ir. Ouviu uma voz mansa que tomava conta de todo “espaço” dizendo. Apenas confie. Sua confiança é o que fará você encontrar seu caminho. Ouça seu coração, sua intuição, saiba diferenciar o que é a mente, o que é a verdade se manifestando. Ouça no silêncio das estrelas a voz que te guiará na escuridão da noite. A lição do escuro é você aprender a confiar na intuição. Navegar pela noite sem confiar na intuição, é navegar cegamente. As sombras enganam somente seu coração te levará a próxima porta, a seguir jornada. Silencie Sofia. Silencie.
Assim Sofia parou, deixou a mente aquietar e olhando mais atenta para a imensidão que brilhava, percebeu que algumas estrelas brilhavam mais, como setas apontando um caminho. Foi caminhando, seguindo as estrelas quando se deparou com um portal, com uma intensa e negra luz como somente a noite sem estrelas e lua pode ser. A lâmpada negra que brilhava iluminava o número 5. Ela atravessou o portal e se deparou com o mais profundo silêncio que já conhecera. Ali mergulha nesse vácuo absoluto, sentiu o peito apertar, certo medo tomar conta, mas, lembrou-se das lições da porta anterior: Confie na intuição. Sentou-se no chão, quando viu um vulto de cabelos brancos passando. Forçando um pouco mais a atenção de seus olhos percebeu ser uma senhora vestindo um longo vestido preto. Apenas seus olhos azuis e sua cabeleira branca podiam ser vistos na negritude silenciosa.
Ela, a anciã, não falava nada, caminhava quase flutuando com a barra de seu vestido tocando o chão enquanto parecia arrastar vagalumes, levantando brilho do chão. Sofia foi sentindo-se tomada por uma Presença tão intensa quanto à escuridão do lugar e essa Presença a remetia ao que entendia por divino. Uma Presença Silenciosa e Provedora. Chorou emocionada quando percebeu que não eram palavras que a ensinavam, mas, as emoções e sentimentos que tomavam conta que faziam cada célula de seu corpo recordar da sua mais remota essência, sua forma primordial. O silêncio, sentiu ela é o Mestre de todas as jornadas e a resposta para todas as perguntas.
Então, uma espiral de estrelas se fez e uma porta imensa surgiu em sua frente, com uma luz vermelha com de sangue iluminando o número 6.
Entrando pela espiral, atravessou o batente da porta e chegou a uma sala com muitos livros feitos a mão, costurados delicadamente com cores intensas, um perfume de rosas tomou conta do ar e uma linda senhora de vestido vermelho se aproximou e disse: Venha criança, sente-se aqui perto do fogo e escute as histórias que tenho para contar. Ouça-as com o coração.
A senhora então começou a contar uma história atrás da outra, e a cada história sentia uma ferida se fechando em sua alma, lágrimas de puro bálsamo caiam sobre seu rosto enquanto um sentimento de paz tomava conta de seu ser, causando arrepios na pele, como quem dizendo: Estou chegando em casa.
Sofia percebeu que a anciã contava as histórias de forma lúdica, vez ou outra ria-se ao contar um causo e explicava que rindo a vida torna-se mais leve e os aprendizados ganham doçura. Assim o sagrado e o profano dançam juntos, no aprendizado da vida. Ela prendia sua atenção como criança que escuta um conto de fadas, mas sabia que eram contos de cura e que o poder dessa cura, estava nas palavras que pronunciava. Eram doces, alegres, traziam em si uma fé inabalável e uma força intensa. Assim deveria ser a vida, compreendeu ela.
Então Sofia levantou-se e ao som dos contos da anciã, dançou como se escutasse uma música. A música da vida estava sendo cantada em seus ouvidos e ela se percebeu feliz como nunca havia sentido antes.
Distraída em sua dança não percebeu que seguia livremente em direção a próxima porta que tinha uma lâmpada amarela em formato de girassol iluminando o número 7.
Dentro, a abuela linda de cabelos trançados e enfeitados com flores minúsculas flores amarelas e vestia um manto da mesma cor. Na mesa, velas amarelas iluminavam a mesa farta, com alimentos coloridos. Ao fundo uma música alegre tocava, enquanto pássaros dançavam de um lado para o outro, bailando junto às abelhas, enquanto um gato se espreguiçava sobre o tapete.
Foi serviço um chá de hibisco, na mesa florida em frente ao fogo, que parecia tilintar nas mesmas cores amareladas. A abuela era pura doçura em seus olhos castanhos. Quase uma carícia na alma o olhar dela.
Ela falou sobre a liberdade dos seres, do respeito que precisamos ter em todos os aspectos, do acolher cada ser encontrado pelo caminho, pois, cada um deles era manifestação do amor divino na terra. Todos devem ser amados igualmente e incondicionalmente. Que o amor é a medicina que livrará o mundo das mazelas, das chagas nas almas. Amar incondicionalmente é não ter posses pelos seres, apenas companhia na jornada. Que nada é nosso, mas que tudo nos é presente.
As pessoas filha amada, precisam aprender sobre o desapego das coisas, amar incondicionalmente um pássaro, é permitir-lhe o vôo. Amar incondicionalmente uma víbora é respeitar seu bote e compreender sua essência, não querendo mudar seu comportamento. Bastando atenção para não ser picado. Amor, filha, é liberdade.
Ao terminar sua fala levantou-se e puxou Sofia para um abraço. O abraço mais amoroso que ela já havia sentido na vida. A abuela então falou em seu ouvido: “Receba meu amor e espalhe por todos os cantos e direções que você for, seja a partir de hoje a portadora do amor incondicional para poder ser exemplo desse caminhar”.
Assim, soltou-se do abraço e apontou para Sofia o caminho que levaria ela à próxima porta. Ela caminhou até uma ponte que tinha uma luz azul que iluminava o número 8 sobre o caminho até um lago com águas da mesma cor intensa.
Ali uma velha senhora vestida com tecidos azuis em tons mais claros que as águas do lago, manuseava ervas, potes, ungüentos. Havia um caldeirão fervendo com muitas ervas que perfumavam o ar, além das que estava a secar penduradas sobre o fogo que aquecia aquele laboratório mágico.
Estou preparando um banho para um rito de passagem, venha, ajude-me a picar essas ervas para colocar no caldeirão. Precisamos usar as ervas certas para cada tipo de mal, cada tipo de dor. Essas são para ajudar que o espírito que está para terminar sua viagem nesse plano, faça sua passagem de forma tranqüila e serena e ajudando com os rezos certos, possa ser direcionado aos seus amados. Toda vez que auxiliamos um ser a encontrar sua família no astral mais rápido, diminuímos o sofrimento da saudade dos que ficam. Também preparamos os chás para os que ficam, para compreenderem que tudo são ciclos, do nascimento a morte, da semente ao fruto. Para que haja espaço para uns nascerem, outros precisam morrer. São os ritos da natureza. Para que o verão chegue à primavera precisa aceitar deixar de florescer, para que o outono venha, o sol precisa aprender a descansar, o inverno só vem quando as folhas caírem e assim, abrirem espaço para o broto, novas folhas para proteger nova criação chegando. Isso é vida acontecendo. Conhecendo as ervas certas, as palavras certas, a energia certa, curamos a ferida dos corpos que ficam e das almas que vão, das almas machucadas que ficam presas dentro dos corpos que não sabem como se curar, até que uma de nós chegue com sua sabedoria.
Curamos feridas e precisamos estar em paz com as nossas pessoais Sofia, em harmonia com nossas águas, onde moram todas nossas emoções e essas, são cura ou doença. Só nos curamos quando entregamos. Solta a dor que a cura vem.
Então a velha senhora estendeu um copo com água para Sofia, que bebeu deliciosamente. Não tinha percebido como estava com “sede”, antes de beber dessa água, azul como o oceano.
Ao terminar de beber percebeu Sofia, que estava em outro lugar, de frente para uma porta com uma luz verde iluminando o número 9. A porta estava aberta, Sofia só fez atravessar e ver que estava no alto de uma montanha onde uma senhora com um xale verde com longas franjas, apreciava o por do sol com sua cuia de mate nas mãos. Sofia sentou-se a seu lado, observando aqueles tons de verde das planícies abaixo, junto com as árvores que cobriam as montanhas, que estavam ali, todos bordados no xale que cobria os ombros daquela linda abuela.
A senhora perguntou: O que você vê ali Sofia? Apontando para frente. O por do sol abuela. Observe mais atentamente filha, o que você vê ali? O horizonte onde está acontecendo o por do sol, senhora. Certo, e o que te lembra o horizonte filha? Sofia fixou em silencio pensando, então a abuela diz: “O futuro amada criança. O horizonte é o futuro. Nessa fase nos tornamos guardiãs do futuro. Somente assim o conhecimento se manterá, quando assumimos essa responsabilidade, de guardarmos o passado para construirmos sobre solo firme o futuro das novas gerações. Para isso minha menina, você precisa compreender-se interna e profundamente, sempre olhando para dentro de você e buscando sua verdade interior, onde é construída sua solidez. Onde você apenas É, assim assumirá ser a Manifestação e não terá medo de trazer seus sonhos à terra.
Ao terminar de falar um “buraco” na parede ser formou e uma escada apareceu. A abuela fez menção de que Sofia deveria seguir por aquele caminho e dando um sorriso doce, se despediu.
Sofia subiu as escadas e se deparou com uma nova porta onde uma luz cor de rosa brilhava sobre o número 10.
Sofia entrou e ficou encantada com a quantidade de rosas cor de rosa haviam ali, espalhadas por vários pequenos jardins, que formavam um círculo e no centro uma nova abuela estava sentada a tecer algo no tear. Ela pediu para que Sofia sentasse a seu lado, no outro tear que havia.
A resposta foi: Não sei tecer abuela.
Você já tentou, retrucou a senhora. Tente, somente assim coloca em movimento a energia do aprendizado. Tentar nos alimenta a criatividade, desenvolve nossas habilidades de materializar nossos sonhos e idéias, de criar a jornada de nossas vidas.Teça, você verá sua força de vontade criar um vórtice poderoso de energia, que é a auto-expressão. É necessário nutrir isso, nossa auto-expressão, pois é o mapa de nossas almas. O que criamos a partir de nós, tem vida.
Sofia foi ouvindo e tecendo e ao se dar conta havia feito um xale com o desenho do por do sol que acontecia a frente, que completava o desenho dos vastos verdes do xale da abuela.
A senhora levantou-se, tirou o xale do tear e cobriu Sofia com um beijo em sua fronte.
Vai filha, segue viagem e siga em paz.
A abuela saltou do penhasco e um lindo gavião bailou nos céus.
Sofia virou-se buscando uma saída e viu uma nova porta com uma luz branca sobre ela, iluminando o número 11.
Sofia adentrou aquela porta e encontrou um lindo jardim com flores brancas de todas as espécies, uma primavera florida fazia sombra para uma mesa com toalha de renda tão alva quando as nuvens que voavam no céu.
Ao dar o primeiro passo, Sofia percebeu que suas roupas também eram brancas e soltas, balançavam com o vento. Eram também da mesma cor da roupa da senhora que balançava na rede.
Ao perceber a chegada de Sofia a anciã se levantou caminhou suavemente até ela.
Sofia percebeu sua postura ao caminhar e sua leveza nos passos. Não fazia barulho, altiva, andava ereta como uma deusa e caminhava com certeza nos passos.
Ela abraçou Sofia e convidou-a a caminhar com ela. Vê aquele gavião Sofia, como voa sem se importar se os outros que estão ao lado o observam? Percebe que para ele não importa os olhares e opiniões, mas apenas como ele está voando? Se ele parar de observar suas próprias realizações, jamais conseguirá voar, irá sempre tentar ser igual ou superior a alguém. Isso traz sentimento de tristeza, pois ao começarmos esse caminho, nunca terá fim. Sempre estaremos buscando ser melhor que o outro. Mas nunca aprimoraremos quem somos de verdade. Em cada um de nós há uma história, todos nossos ancestrais falam por nós. Somos a voz de cada um deles no aqui e agora e para ouvi-los precisamos trilhar a vida com integridade, assim seremos dignos de seus conhecimentos. Caminhar com sabedoria de quem se é, nos torna ao mesmo tempo forte e serena. Porque força não precisa ser bruta e serenidade deve caminhar ao lado dos fortes, para que eles não se percam da Justiça. Isso é caminhar com as palavras. Caminho mostrando o que sou.
Deitou-se a anciã em meio às flores brancas, sorriu para Sofia, que se sentia imensa, e desapareceu, misturando-se em suas vestes brancas.
Sofia ficou ali por uns minutos ainda, sentindo aquela intensidade dentro dela, até que a primavera começou a mexer-se formando uma porta e de dentro uma de suas flores brancas uma luz púrpura iluminava o número 12.
Sofia entrou pela porta e se deparou com muitos véus balançando, véus da mesma cor da luz da porta, muitas lavandas floridas e um perfume inebriante no ar. Perto, um altar onde uma senhora com um manto também na cor púrpura, estava ajoelhada e uma vela violeta iluminava a imagem da Mãe. A senhora falou para que ela se ajoelhasse ali junto e que rezassem juntas em Gratidão à vida.
Quanta caminhada em filha? Disse a senhora
Quanto aprendizado a Mãe lhe ofertou nesses momentos, seu coração deve estar pulsando em gratidão. Reze filha, reze e agradeça à vida por tamanha benção, agradeça cada aprendizado, cada pedra que lhe ensinou a estar mostra, cada espinho que mostrou cuidado e cada pétala que doou seu perfume. Agradeça a cada sinal que Ela enviou a você filha em sua mais pura demonstração de amor. Agradeça filha.
Sofia caiu em prantos. Soluços de alegria tomaram conta de seu corpo, suas lágrimas banhavam seu rosto e lavavam sua alma. Ela estava sentindo-se plena.
Olhava a imagem da Mãe e isso trazia mais e mais alento, pois sabia que era apenas um sinal de que Ela nunca a deixava só em sua jornada. Isso era benção.
A senhora então, levantou-se, pegou a imagem e entregou nas mãos de Sofia dizendo: Leve essa imagem à próxima velha que encontrar. Siga por ali e mostrou um caminho que começou a brilhar. Sofia seguiu percebendo os cristais mais puros que mostravam o caminho até a próxima porta que tinha um cristal reluzindo, num prisma de cores sobre o número 13.
Sofia então se deparou com uma sala repleta de cristais, tudo era cristalino ali. A anciã usava como adornos, colares, anéis e brincos de cristal. Havia sobre sua sala uma enorme pirâmide de cristal e era quase possível perceber a transformação das energias que ele fazia. Era um computador, transformando e decodificando informações. Havia uma prateleira sobre a lareira, onde 12 caveiras de cristal brilhavam, havia “cheiro” de ancestralidade todo o local.
Sofia entregou a imagem da Mãe nas mãos da anciã, que lhe agradeceu e ofertou um cristal em forma de pirâmide com um cordão feito com contas de cristal transparente dizendo:
Você realizou com maestria toda sua jornada filha. Aprendeu, ouviu, silenciou, sentiu e agora precisa deixar para traz tudo, ficando apenas com a sabedoria dos conhecimentos, assim abre espaço para reaprender, e saberá guardar em sua alma quão difícil é a jornada, assim jamais diminuirá uma irmã no caminho, com sua opinião pessoal, jamais deixará de amar um irmão do caminho porque errou, será a própria visão divina através de seus olhos, terá o amor da Mãe em seu coração e espalhará a semente do caminho da beleza em seus passos.
Quando somos acolhedores, ajudamos todos a realizarem suas transformações pessoais. Para ir para o casulo, precisamos sentir que somos protegidos.
Segue firme e confiante, uma etapa de sua jornada terminou. Com mestria você veio até aqui, agora descanse.
Falando assim a anciã colocou o cordão no pescoço de Sofia, deu um beijo em sua testa e despediu-se.
Sofia abriu os olhos e estava deitada, no caminho da floresta, com os mesmos pássaros cantando, mas mesmas flores e os mesmos animais andando calmamente. Ela olhou novamente e disse para si mesma, “não são os mesmos, apenas parecem iguais. Colocou a mão no pescoço e sentiu o colar de cristais. Sorriu!
(Por gentileza, compartilhem no Facebook com os devidos créditos - Gratidão)
Rose Kareemi Ponce
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