Roteiro escrito para apresentação de Danças Femininas!
DANÇANDO A VIDA
Era lua cheia!
Ela estava sentada a beira mar observando o movimento das ondas e com lágrimas escorrendo pelo rosto, pedindo que a felicidade se apresentasse a ela.
Em sua angustia e com olhos embaçados pelas lágrimas, não percebeu a chegada de uma linda mulher de longos cabelos, com um cajado na mão direita, que exuberantemente exibia uma linda pérola em sua ponta.
A deusa, como a chamou, com o olhar mais doce que já tinha visto, sentou-se a seu lado e olhando ao longe, como se observando os movimentos do mar, mostrou a lua cheia e seu poder, mas ela so poderia lhe presentear com um sentimento, assim que este existisse dentro de seu coração.
A lua não nos dá nada, apenas potencializa nossas emoções, ela movimenta nossas águas internas e faz emergir, tudo o que temos em nossa alma. Para que possa curar-te de tudo que pulsa em você, há de vivenciar todos os seus ciclos, todas as suas fases, mas, e acima de tudo, perceber que esses ciclos e fases, estão em você assim como em toda a natureza. A lua, não esqueça, comanda todas as águas, inclusive as nossas!
Para que você possa vivenciar esses ciclos e libertar se da dor, dance os ciclos das nossas águas, dance as fases, dance a vida.
E então olhando para a lua ela pediu para que a Senhora da noite, Senhora absoluta das águas de todos os seres, a guiasse em mais essa missão de resgate de suas filhas. Enviando sua luz para que ela pudesse lhe orientar e dançar sua força, movimentando como as marés e tendo a humildade para ensinar e vivenciar todas as suas facetas, trazendo um aprendizado, uma celebração e proporcionando o crescimento necessário para um dia, brilharmos no cosmo como brilha sua luz sobre nós!
Filha das águas, vamos curar sua alma e dançar a vida em todas as suas etapas!
Estamos sob o poder da lua cheia, portanto todas as suas emoções estão à flor da pele. Vamos tornar essa energia curadora e nos aproveitar dela para que possamos iluminar os cantos escuros de sua alma, reconhecer todas as emoções escondidas, dar amor a cada uma delas e assim, preparar o terreno para que possamos chegar à cura!
Para isso precisamos da sua entrega, dos seus medos e da compreensão que tudo, todas as experiências que viverá nesse processo não passarão de sensações, já que os fatos ficaram no passado. Nesse momento é imprescindível que confie, que se entregue e que permita mergulhar nas suas mais profundas emoções, para que elas possam vir à tona, serem reconhecidas, curadas e assim fluir como as águas sem que fiquem presas a nada.
Fechando os olhos, sinta o movimento das marés e perceba a conexão entre a luz que chega e a força das águas, apenas sinta, não se prenda a um único pensamento, não se apegue a uma única emoção, deixe que tudo venha e vá como as águas que estão ao seu redor. E quando estiver pronta, dançará como nunca! Lembre-se que para poder sentir o poder curativo das águas e da força vital lunar, precisa primeiramente, libertar-se de tudo o que te prende.
Durante os dias e noites ela foi tomada por uma força imensa, algo que a fazia vibrar e se sentir cheia. De olhos fechados podia sentir o poder daquelas águas que vinham do fundo, eram escuras e preenchiam cada espaço ao seu redor e dentro. Confundindo e misturando, num bailado constante, ondulatório e forte. Foi vivenciando e relembrando cenas e passagens de sua vida, que sequer sabia que podia recordar e o peito doía como se uma enorme pedra tivesse sido colocada sobre seu peito.
Não sabia que a linda mulher também estava a transformar-se e dançava a sua volta, entoando canções que evocavam a Grande Mãe. Pedindo proteção e amparo, colo e cuidado.
Quando não mais podia suportar a dor, pediu por ajuda e junta a linda mulher, com o minguar da lua, permitiram que minguassem toda a bagagem que não pudessem e não devessem mais carregar, limpando suas almas, como limpa a lua as energias de todos os seres.
Sentindo um desejo de dançar, vestiu-se de pérolas, e como se quisesse rasgar o peito, dançou com toda sua força, desaguando a alma, e o som das águas no coral, lembrava um tambor batendo forte, seu peito pulsava no mesmo compasso, seu quadril movia-se intensamente. Tudo se movimentava de dentro pra fora, fazendo-a sentir uma energia que expulsava dela toda aquela angustia e ela ia assim, murchando e murchando. Estava a perder a força, estava perdendo a coragem e num momento de súplica, pediu para que a linda mulher a socorresse, que tirasse ela dali, porque não queria continuar, preferia ter ficado na praia chorando suas dores, do que esvaziar-se delas, pois doía menos carregá-las a ter de enfrentá-las!
A linda mulher, vendo desabrochar todas as sensações e compreendendo os sentimentos, com o seu cajado entoou uma canção para a lua. E assim dançaram noites e dias, até que tudo desaguasse, até que não houvesse mais dores.
E então o céu escureceu. Não havia mais luar iluminando o mar, não havia mais luz e a moça que continuava de olhos fechados sobre o coral, sentiu uma onda de energia a pulsar dentro de seu ventre, uma onda que mexia com suas entranhas.
A linda mulher continuava o bailado. Continuava a dançar com as grandes águas, continuava a reverenciar o luar.
Sua dança acompanhava o movimento das marés, que por sua vez eram guiadas pela força da lua, que mesmo distante e escondida nessa fase, permanecia a comandar todas as águas!
Permita que seu ventre renove suas energias nessa fase minha menina! É momento de desaguar e renovar as águas sagradas de seu útero, abençoar os ciclos da criação, renovar seus votos com o feminino. Permita-se sangrar até que o ventre, guardião sagrado da vida e portal da transformação dos seres, esteja purificado. Você limpou sua alma, agora necessita limpar também o recipiente que armazena as águas vitais, e que todos os meses, precisam ser desaguadas e renovadas para que não se acumulem lembranças desnecessárias, energias que nos fazem sucumbir e perder nossa força e nosso contato com o sagrado em nós.
Dance a renovação. Dance e celebre seu sangue, que é vida, que é sagrado.
Dançou suavemente seu ciclo!
Ouvindo uma cantiga alegre dançou, e foi tão magicamente entregue a esse momento, que as estrelas do mar, que habitavam o coral uniram-se e cobriram seu corpo, como um véu colorido!
Ela então se sentiu a mais feminina de todas as mulheres. Sentiu-se mágica por poder sangrar seu ventre e purificar seu corpo, assim como havia feito com sua alma. E ali dançou sua sacralidade.
A linda mulher, com os olhos úmidos de emoção por perceber que a moça estava reconhecendo em si todos os ciclos da natureza, pois ela, era a própria natureza florescendo, entoou uma nova canção, onde todos os sons podiam ser ouvidos; o mar, o vento, o fogo estalando no fundo do oceano e a terra se movimentando, abrindo uma fenda por onde pudesse sangrar e renovar. E mais um ciclo estava a se encerrar para que outro recomeçasse, sem lagrimas e dor, mas a emoção crescente em seu coração e um desejo latente de continuar.
A moça percebeu que enxergava cores que antes não conseguia, percebia nuances maravilhosas, que por estar envolvida nos véus da angustia e do medo, não podia perceber e os seres do oceano começaram um bailado encantado festejando o despertar daquele lindo ser!
Estrelas do mar, cavalos marinhos, golfinhos, ondinas, sereias e tantas outras criaturas chegavam para bailar junto com a moça que florescia, emprestando seu colorido e sua alegria para aquele momento!
Crianças do mar, filhotes de seres míticos, entoavam canções e dançavam em volta do coral, que brilhava como nunca. Cores antes nunca vistas por seus olhos humanos estavam a cintilar nas águas. Os corais ao lado se iluminaram, formando um lindo “palco” onde dançavam seres mágicos e as mais belas canções sobre o mar foram tocadas. Ouviam-se ao fundo as ondas do mar batendo nas pedras, e o som era o de tambores sendo tocados, como se o coração da Mãe Terra pulsasse mais intensamente nesse instante. Tudo era mágico, tudo era belo, tudo era transformador!
Era um crescer de emoções límpidas, assim como o crescer das águas e no céu, a lua mostrava um sorriso, demonstrando que estava feliz com despertar de mais uma filha, para seus ciclos pessoais, juntamente com os ciclos de tudo o que a cercava.
E todos os seres das águas dançavam com ela, celebrando os ciclos e o crescente movimento das águas. E o sorriso da Senhora da noite, crescia e com ele, o amor que pulsava dentro de todos os seres, assim como todas as dores. Mas a moça não sabia mais o que era isso, ela apenas sentia uma enorme força pulsando cada dia mais intensamente dentro dela e podia perceber que essa mesma força, animava e nutria todos os seres que ali dançavam com ela e sabia, que mesmo os que ainda não dançavam a música da vida, certamente o fariam, pois os ciclos são assim, um dia estamos cheios, outros nos sentimento perto da plenitude, um dia estamos murchando, outros estamos esvaziando. Tudo era uma questão de como olhamos a vida, de como está o prisma que dá o colorido a nossa jornada!
E nesse sentir ela brilhou. De dentro de seu coração explodiu uma luz tão intensa que todas as criaturas do oceano curvaram-se a seus pés, reverenciando sua coragem de transmutar e de permitir-se Ser luz!
Conchas abriram-se e doaram de presente, lindas pérolas que enfeitaram seu pescoço, as estrelas que cobriam seu corpo, mudaram de cor e brilhavam em furta cor. O mar se fez festa e no céu a Senhora da Noite, enviou um facho de luz prateada, abençoando a alma dessa filha que havia experimentado todas as suas fases, conscientemente. Ela que até a pouco tempo, estava a reclamar estar cheia da vida, de dores e mágoas, agora estava a dançar a plenitude de seu ser, a grandiosidade de sua alma e a sacralidade de suas águas!
Ao lado da linda mulher, a moça que passou de menina a mulher levava consigo uma perola e percebeu a diferença entre estar cheia e plena, pois na lua cheia passada, estava a chorar por sentir-se cheia de tudo o que te cercava, pedia felicidade como se ela estivesse fora de si, como se em um passe de mágica, a lua simplesmente pudesse dar-te de presente, algo que apenas a ela caberia dar a si mesma. A Senhora da Noite, apenas nos proporciona a força que necessitamos permitindo que nós mesmas nos curemos de todos os males da alma, mas também e acima de tudo, nos presenteia com a capacidade do renascimento. Todos os meses, podemos morrer e renascer, desaguar e renovar, basta que estejamos atentas, despertas e assim aprendemos a fluir nossas águas, com o mesmo movimento das grandes águas!
“Senhora da Noite, guardião das sagradas águas, gratidão pelos ciclos que nos regem, pela possibilidade de renascimento e pela certeza da morte.
Que possamos todos os meses, reverenciar sua força e agradecer as lições que chegam.
Que possamos deixar de nos sentir cheias, para que possamos nos sentir plenas.
Guarde nossos passos, renove nossa esperança e ilumine nossos sentimentos, hoje e sempre.
Que assim seja!”
“Lembre-se, carregue apenas o necessário, todo o resto se desfaz entre os dedos, como areia e o tempo. Toda beleza que necessita está em você, em seu interior, todo o resto é adorno, é máscara, todo o resto é peso morto, todo o resto é tempo...!”